Atire a primeira pedra quem nunca teve dificuldades no relacionamento afetivo.
Às vezes o coração prega peças e se embola de tal forma que nos sentimos encurralados, desejosos de retomar o equilíbrio mas sem saber como agir para isso.
Encontrar um parceiro/a para caminhar ao nosso lado requer uma combinação de muitos fatores. Se você ainda busca fórmula mágica ou algo matemático, provavelmente vai encontrar mais dificuldades e frustrações.
De toda forma, tenho observado no consultório com mais frequência a extrema importância de cada um, primeiramente, saber viver bem e feliz sozinho. Ou seja, não depender nem depositar a felicidade em outra pessoa.
Grosso modo, podemos pensar em duas visões diferentes de formas de se relacionar: uma visão complementar e outra suplementar.
A visão complementar retrata de perto o ideal romântico que impera na nossa cultura ocidental. A ideia aqui é a da “metade da laranja” ou da “tampa da panela”, em que uma pessoa só se completará e será plenamente feliz quando encontrar um parceiro/a que preencha este buraco, este vazio.
Na visão suplementar, tem-se a ideia de alguém que se sente bem consigo mesmo, independente da presença de um parceiro/a. Nela, vemos pessoas que não depositam no outro a responsabilidade por sua própria felicidade e que, quando acompanhadas de um parceiro/a, até podem se sentir mais felizes (diferentemente das pessoas cuja felicidade ocorre com mais frequência e regularidade apenas se/quando estão acompanhadas).
Sentir-se bem e saber relacionar-se consigo mesmo é um aprendizado. Não ocorre do dia para a noite e algumas trajetórias de vida podem facilitar isso. No entanto, se você já é adulto e ainda tem dificuldades com isso, não se preocupe. É possível cuidar disso agora.
Penso que um bom começo seja o que eu gosto de chamar de “exercitar a solidão”. Como? Ficando em casa sozinho, em contato com você mesmo durante um final de semana ou parte dele (ou mesmo viajar sozinho por um curto período de tempo para começar de forma mais gradativa); ir ao cinema/teatro/show/exposição sozinho(a); passear num parque e contemplar a natureza; sair jantar fora sozinho… Enfim, há uma série de atividades que permitem exercitar momentos sozinho e de contemplação do que ocorre a sua volta.
Para começar, você pode escolher atividades que à princípio tragam algum tipo de prazer por si só. Ir a uma peça de teatro sozinho se você não gosta de teatro não seria o mais indicado. Já experimentar ir ao cinema sozinho para ver um filme que você quer muito assistir pode aumentar a chance de você não se sentir (tão) deslocado e começar, aos poucos, a gostar de estar com você. Afinal, encontrar prazer em sua própria companhia é o desafio colocado aqui.
Em todas estas situações, é importante que você observe o que ocorre a sua volta, mas principalmente o que ocorre dentro de você. O que você pensou quando foi ao cinema sozinho, por exemplo? Qual o sentimento você teve quando entrou em contato com você mesmo ao realizar uma atividade sozinho? Estes estados internos trazem boas pistas de pontos a serem desenvolvidos.
Ah, não vale levar o smartphone e ficar pendurado nas redes sociais ou entretido de outra forma… Você entendeu bem a ideia!
Além disso, comece devagar, aos poucos. Algumas horas sozinho num Sábado pode ser melhor do que se aventurar numa viagem de uma semana inteira sozinho, não ter uma boa experiência e desistir.
Abaixo, segue um vídeo inspirador para te ajudar a começar!
Como ser feliz sozinho – legendado
E lembre-se: ser sua melhor companhia é um passo importante para se relacionar afetivamente com outra(s) pessoa(s). Afinal, se você não se sente feliz sozinho, imagine os impactos disso quando existe mais alguém além de você na história?
Grande abraço e vamos juntos,
Ghoeber Morales