Já percebeu como a internet está cheia de “especialistas”, sempre com conselhos e materiais para download grátis a respeito dos mais diversos assuntos? Bastam alguns cliques para encontrar conteúdos voltados para alimentação saudável, vestuário, maquiagem, saúde financeira, emocional, roteiros de viagens e tudo o mais que se possa imaginar. É fácil achar, ainda, dicas sobre coisas quase que inimagináveis. Bem vindo à realidade virtual (e muito real).
A palavra “especialistas” foi escrita acima entre aspas, pois o que se tem visto, no fim das contas, é que praticamente qualquer pessoa pode se tornar uma autoridade em determinado assunto nas redes sociais. Os critérios para isso são, no geral, pouco exigentes.
É notória e inquestionável a facilidade que se tem, hoje, de se conseguir informações valiosas a respeito de qualquer temática, simplesmente acessando a internet. O conhecimento, antes mais restrito a uma parcela pequena da população, pode ser visto por um número infinitamente maior de pessoas. E isso é sensacional! Afinal, com um clique, podemos aumentar e aprofundar nossa noção sobre temas de interesse. Um maravilhoso novo mundo se abre diante dos olhos!
Porém, observam-se, naturalmente, alguns exageros. Tenho certeza de que você já presenciou alguns. Por isso, acredito que alguns cuidados devam ser tomados. Afinal, quantas dicas têm sido divulgadas por “especialistas” sem nenhuma formação e capacitação adequada, impactando negativamente a vida de centenas de pessoas?
Se pudéssemos pensar numa receita para alguém se tornar especialista em algo, na internet, provavelmente, o primeiro passo seria: comece a disponibilizar conteúdo gratuito sobre determinado assunto (em forma de textos, vídeos, áudios, etc.) do qual você tem interesse/conhecimento/domínio e trate de aumentar o número de seguidores que você tem. Provavelmente, quando alcançar um número grande de pessoas que te acompanham (aqui quase não importará a forma utilizada para isso ocorrer), você terá atingido seu objetivo. Simples assim.
Até porque um especialista em determinado assunto que tem poucos seguidores não passa muita credibilidade, não é? Pois é, até isso virou uma forma de medir qualidade profissional… Até que ponto isso faz sentido é, a meu ver, bastante questionável.
Pense em algum especialista que você acompanha nas redes sociais. Não importa se você recebe o conteúdo por e-mail, Facebook, Snapchat, Instagram, Periscope, WhatsApp ou qualquer outra plataforma. Agora, pare e responda as seguintes questões:
– O que você conhece a respeito dessa pessoa, além do que ela lhe entrega utilizando tais plataformas?
– O que você sabe sobre formação e trajetória profissional dela, além do que está divulgado pelo próprio profissional?
– O que o torna, em sua opinião, um especialista ou autoridade naquele tema?
Antes que você acredite que esse texto foi escrito para detonar tais pessoas, já aviso que meu intuito definitivamente não é esse. Até mesmo porque eu sou uma dessas pessoas que divulga conteúdo gratuito em algumas dessas plataformas. Você já deve ter recebido, inclusive. Estou aqui para nos fazer pensar sobre os rumos que isso tem tomado.
A indústria do marketing digital tem feito fortunas e é preciso senso crítico para não se tornar vítima dela. É frequente que parte do conteúdo que vemos por aí seja construído, na verdade, por empresas que se especializaram nisso e não pelo profissional que assina a página ou perfil. Isso significa que o especialista não domine tal conteúdo? Não necessariamente. Até porque, muitas vezes, tais conteúdos são revisados cuidadosamente por eles e, obviamente, há muitos que, de fato, se debruçam e participam de todo o processo.
Meu intuito aqui é te provocar e questionar sobre o que temos visto e sobre a forma como temos nos relacionado com isso tudo. Por isso, reitero: há milhares de especialistas muito bem embasados, sérios e competentes, prestando um serviço com ética e qualidade à população. Fazendo, inclusive, excelente uso das empresas de marketing digital para tal. E isso é, a meu ver, muito importante, inclusive. Afinal, não fosse assim, ao longo da nossa existência aprenderíamos muito menos coisas interessantes, ficaríamos limitados ao aprendizado que fosse ocorrendo exclusivamente por conta da nossa própria experiência (ou da de pessoas próximas).
Esse texto é um convite para que fiquemos atentos aos serviços que temos comprado, às causas que temos apoiado, à audiência que temos dado às pessoas e aos conteúdos dos quais somos bombardeados diariamente. Lembremo-nos que ainda temos a capacidade de julgar e escolher o que queremos ver, ouvir e nos relacionar com.
Grande abraço,
Ghoeber Morales