Um texto escrito com uma taça de vinho à mão…
Uma amiga escreveu, há algum tempo, sobre como enterrou parte dos seus sonhos numa tarde de domingo. Pensei nos meus e percebi que por muito tempo fui um bom realizador de sonhos: agarrava e realizava os sonhos dos outros. Quer algo mais altruísta? Fui condecorado o melhor realizador de sonhos. Um brinde e um bom gole de autoconfiança…
Parei, ponderei. Mais uma ida à taça… Fui um sonhador, contudo, não muito cuidadoso. No meu caso, não os enterrava, mas sim deixava partir e colocava outros no lugar com facilidade. Outros que continuavam não sendo meus. Descartáveis! Tudo parecia bom, mas nada era significativo, pessoal, arrebatador. De repente, percebi que comecei a tratá-los com certa indiferença. Os que não mais serviam, eu desconsiderava e colocava outros no lugar. Eram sonhos sem valor para mim.
Um bom gole… Isso não faz sentido! Acordei a tempo e no último ano realizei muitos sonhos. Sonhos que eu mesmo criei. Percebi que o que realmente me move são as minhas realizações. Foi bom e mais recompensador que antes. Esses sonhos, os meus sonhos, sobrevivem mais tempo. Acompanham e até estendem a mão. É importante compartilhar sonhos alheios, mas implicar-se nos seus é essencial.
O caminho no qual aprendemos a lidar com nossos sonhos é longo. Adiciono mais bebida à taça… Sonhos são insaciáveis! Achei que o último ano tivesse satisfeito meus anseios e que, a partir daqui, eu viveria de “hoje”. Inocente! Os sonhos nos puxam pela mão numa ânsia pelo amanhã. Os sonhos tendem a se nutrir de expectativas: eu quero mais!
Taça vazia, embriaguez na medida… Penso que sonhos são criações que merecem um estatuto próprio. Talvez sejam variações de pensamentos mais leves, que da leveza ganham asas e voam longe. Ou é possível que sejam um tipo de sentimento mais íntimo: aquele que vislumbra sua felicidade antes mesmo que ela exista. Enfim. Com estatuto ou não referem-se a irrealidades que nem sempre superam a probabilidade da falha. Esse foi o caso dos brasileiros com a Copa do Mundo 2014: o sonho do hexa bateu na trave!
Alguns sonhos parecem tão bons que não queremos nos desgarrar deles. Parecem bons. Mas às vezes é preciso ir além. Seguir pra onde? Ah, aqui se encontra o maior problema dos sonhadores: o querer. Bruta flor, como disse Caetano. Último gole… Claro que não devemos abrir mão dos nossos sonhos. Nossos! A questão é sermos flexíveis: todo bom sonhador sabe que, para redefinir os passos, existe o momento para acordar.
Texto escrito por Samuel Silva, terapeuta comportamental da equipe Ghoeber Morales Terapia & Coaching.