Os dias de inverno geralmente são um presente para os olhos e para os sentidos… Acordar, sair pra rua, olhar pra cima e ver aquele azul infinito, sem nuvens no céu, é de uma beleza que quase chega a doer. Assim como os ipês, em suas épocas: roxos, rosas, brancos, amarelos… Espalhados por todas as partes, pra quem quiser, quem estiver disposto a, quem estiver aberto à experiência de ver REALMENTE. Nesse mundo cada dia mais acelerado, mais barulhento e mais caótico, andamos esquecendo amiúde, do passo lento, da mão dada, do olhar sereno, do calor do abraço… Nossos sentidos (temos cinco, olha que maravilha!!) estão sendo atropelados por demandas sem fim dessa nossa vida moderna.
Estamos, muitas vezes, tão atrelados ao cotidiano, aos problemas, ao trabalho, ao trânsito, aos afazeres domésticos, etc., que nem nos damos conta de que o prazer também pode ser obtido em coisas simples, que nos estão disponíveis à exaustão: apreciar uma árvore bonita, um sabor diferente, o cheiro de uma fruta, água escorrendo no corpo, um sorriso, observar pessoas na praça… A lista é infinita.
Estar atento aos sentidos é um primeiro passo para estarmos mais conectados conosco e com o mundo a nossa volta, afinal, eles são a porta de entrada para decifrarmos e significarmos o “lá fora”… Mas por que será que, continuamente, decodificamos apenas superficialmente nossos sentidos? Processamos, mas não damos significado. Ou damos significado, mas não damos sentido. Ou damos sentido, mas não damos valor. E vamos passando, dias afora, anos a fio, às vezes, vidas inteiras, sem prestarmos atenção de que a beleza, o mistério e a magia estão justamente aí, nesses momentos que damos atenção, significado e sentido aos pequenos pedacinhos de tempo e espaço que vão se juntando e tecendo uma história… A nossa história…
Assim, das muitas possibilidades de “estar no mundo”, acredito que somente dando espaço ao que sentimos, como sentimos, dando a nossa experiência de sentir, um significado único e particular (porque nosso!) é que podemos realmente vislumbrar uma vida mais autêntica e mais verdadeira. E podemos começar prestando mais atenção aos nossos cinco sentidos, todos os dias… É fácil? Provavelmente, não. Mas quem disse que não pode ser divertido?
Eu, por exemplo, tenho o céu azul dos invernos e o escandaloso amarelo dos ipês amarelos para me arrebatarem e me deixarem mais feliz e mais conectada com o mundo… Mas pode ser o cheirinho de café recém-coado… O gosto da comida preferida… A sensação de ser tocado num abraço carinhoso… A lista é interminável… E você? Qual sentido te arrebata?
Texto escrito por Nadja Curvelo – Terapeuta Comportamental da Equipe Ghoeber Morales Terapia & Coaching.