Semana passada assisti a um filme de suspense daqueles que te prendem do início ao fim. Foram duas horas e meia de tensão. Para os interessados, ele ainda está em cartaz: “Os suspeitos”, com Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal. Sem contar muito sobre o filme, quero destacar a incansável batalha de um pai por reencontrar sua filha. O ponto que quero discutir neste post é o que costumamos chamar de “desejo” ou “vontade”.
Quem já não ficou com raiva ou chateado com o amigo, com a namorada ou com o pai, porque ele/ela não fez aquilo que você queria que ele/ela fizesse? Muito provavelmente você já se perguntou: -“Meu Deus, mas porque fulano(a) não faz isso? O que é que custa? É tão simples… Será que eu estou pedindo muito?
Sinto lhe informar que a resposta provavelmente é: SIM, está! Pelo menos em muitos casos sim…
Afinal, se não fosse assim, ele/ela já teria feito, não? É claro que há muitos casos nos quais a pessoa tem o desejo de fazer algo mas encontra dificuldades. Faltam-lhe habilidades técnicas para tal, entre outras. Mas ainda assim, a vontade é grande o suficiente para aprender essas habilidades sozinho(a) ou com a ajuda de alguém conhecido ou de um profissional?
Como já disse, o que quero questionar aqui é o que costumamos chamar de DESEJO ou VONTADE. Vou ficar com a palavra desejo daqui pra frente para facilitar a escrita.
O que é o desejo senão um COMPORTAMENTO? Mais especificamente, o comportamento de desejar? Quando falamos em “desejo” no lugar de “comportamento de desejar” fica parecendo que o desejo é uma força interior que temos dentro de nós, algo imaterial que sabe-se lá de onde vem… Já quando olhamos para o desejo enquanto um comportamento, uma ação (o comportamento de desejar), fica mais fácil compreender algumas situações. Além disso, estamos lidando com uma ação possível de ser vista, observada por mim mesmo(a) ou pelos outros… Sim, eu vejo “o desejo de alguém” pela sua atitude, pelo seu comportamento!
Se uma pessoa deseja emagrecer, eu a vejo se envolvendo em comportamentos que contribuem para isso: atividades aeróbicas, alimentação específica, etc. Se uma pessoa deseja se relacionar melhor com os familiares, eu a vejo, por exemplo, prestando mais atenção em si mesma e em suas reações, sendo mais cuidadosa ao iniciar uma conversação, ficando mais sensível ao outro de uma forma geral, etc. De qualquer forma, eu digo que alguém deseja algo quando a vejo se engajando em ações nesta direção, ainda que estas ações sejam encobertas e que apenas eu mesmo(a) possa observar (ex: pensar sobre emagrecer é uma ação nesta direção).
Ou seja, tratam-se de AÇÕES comprometidas com aquilo que realmente importa para a pessoa. AÇÕES que fazem sentido para ela. Isso significa então que, por exemplo, minha esposa pode nunca querer ter um contato mais próximo com a minha família porque isso não é importante pra ela? Significa que meu irmão pode não querer minha companhia nas suas atividades de lazer, pode querer não se divertir comigo? SIM.
Nessas horas você pode se perguntar: “-Poxa, mas isso é tão importante pra mim e eu sou o esposo dela…ou, ele é meu irmão! Exato! Isso é importante pra você mas não significa que são para eles…
Mas nem tudo está perdido. Isto um dia pode passar a ser importante pra eles também!
Mas a mensagem é: enquanto aquilo também não for genuinamente importante para eles, de verdade, eles podem até fazer o que você quer, mas provavelmente o farão por você e não por eles mesmos… E enquanto a gente não faz algo por nós mesmos, o envolvimento é diferente. Acontece de às vezes a gente até fazer, mas faz “meia boca”, faz pra ficar livre de azucrinação, faz porque “tem que fazer”…
Bem diferente de fazer por vontade própria, por desejar fazer aquilo. No filme, o pai faz o possível e o impossível para ter a filha de volta. Fere condutas socialmente éticas tamanho é seu desejo de ter a filha de volta. Vale destacar que o desejo de ter sua filha de volta e as ações que demonstram seu desejo são fruto de uma mesma situação causadora: o sequestro de sua filha.
Em resumo, quero provocar um pouco a reflexão em relação ao dispêndio de tempo e energia que às vezes gastamos ao querer que o outro faça algo que é importante pra gente, mas não para ele ou ela. E enquanto aquilo não fizer realmente sentido para ele/ela, provavelmente veremos poucas ações nessa direção ou então ações forçadas…
Será que vale a pena?