Um barzinho, uma balada, um restaurante mais calmo, uma saída com os amigos… Qualquer lugar. Basta ter um ouvido um pouco mais apurado e podemos observar como comumente as pessoas repetem, sem perceberem, discursos prontos, clichês da moda, pressupostos e preconceitos ditos e ouvidos à exaustão como verdades absolutas. “Não existe homem no mercado”, “é fundamental ser bem sucedido para ser feliz”, “só tendo muito dinheiro para ser feliz”, “é preciso ser magro”, são apenas alguns exemplos do que costumamos ouvir por aí.
Mas, por que isso acontece? Por que, muitas vezes, repetimos o que ouvimos como se fossem nossas verdades? Isto se dá porque, entre outras características, somos seres sociais, gregários e “falantes”, e aprendemos muito sobre o mundo e sobre nós mesmos, basicamente, de duas formas: aprendemos “fazendo”, ou seja, por mais que o outro me diga ou tente me ensinar como aprender alguma coisa, eu só consigo esse aprendizado se eu vivenciar a experiência. Andar de bicicleta é um exemplo clássico desse tipo de aprendizado. Ou aprendemos “ouvindo” o que o outro nos ensina, seja através de teorias, conhecimentos formais, regras, conselhos, instruções e etc., sem termos que, necessariamente, passar pela experiência para aprender com ela. Uma criança não precisa pegar uma faca e manuseá-la pra aprender que ela corta e pode se machucar; de tanto ouvir as pessoas dizerem que ela corta, ele acaba por aprender, muitas vezes, sem ter se cortado.
Assim vamos, ao longo da vida, aprendendo “a aprender” com a fala do outro. Isso vai desde os aprendizados simples até os mais sofisticados. Alguns são absolutamente necessários e precisamos deles para viver em sociedade ou mesmo para a nossa sobrevivência. Outros vamos “internalizando” sem muitas perguntas ou questionamentos. Ouvimos, assimilamos, e vamos testando, vida afora, se essas verdades se aplicam a nós. Algumas se confirmam e vão se transformando em “verdades” incontestáveis… Outras abandonamos no meio do caminho.
Isso não é nem bom nem ruim, a priori. Se por um lado é verdade que aprendemos (e muito!) com conselhos e regras que nos são passados por toda a vida (“não enfie o dedo na tomada, você vai se machucar”; “sai da chuva, pois pode gripar”; “cão que ladra não morde”; “todos os homens são iguais”, “as mulheres não são amigas umas das outras”, e por ai vai…), por outro lado, também é verdade que deixamos, muitas vezes, de aprender por experiência própria para aprender com a experiência do outro (“mamãe disse que é errado”, “todo mundo fala que é ruim”, “papai não quer que eu experimente isso”, e infinitos afins) .
O problema começa quando passamos a viver SOMENTE conforme essas “regras” e “conselhos” passados pelos outros e esquecemos (ou não aprendemos) de testá-las ou questioná-las.
Esse aprender com o outro é importante sim, mas ainda mais importante parece ser a experiência própria (“será que é assim mesmo?”, “e se comigo for diferente?”, qual é a exceção da regra?”, “será que isso pode ser feito de outra maneira?”) e assim sucessivamente, testando seus contextos, tateando suas certezas, quebrando suas regras, criando outras… Mas agora a partir de SUAS experiências… SUAS interpretações… SEUS sentidos…
Estar atento ao que sentimos e ao que falamos, observar se as “verdades”, os clichês e os discursos prontos que repetimos são nossos ou se aplicam a nós, perguntar a nós mesmos o que isso nos diz respeito de verdade… Pode não ser garantia de sucesso, mas faz um bem danado para nosso autoconhecimento!
O que será que você anda sentindo, falando ou repetindo por aí que não é seu, não se aplica a você, mas que pode estar te atrapalhando, te fazendo sofrer, ou te impedindo de ter uma vida mais plena, mais feliz e com mais sentido? Pense nisso…
Texto escrito por Nadja Curvelo, terapeuta comportamental da Equipe Ghoeber Morales Terapia & Coaching