No consultório, escuto com freqüência frases do tipo: “- Se meu esposo fosse mais atencioso comigo, eu não brigaria tanto com ele!” ; “- Se minha mãe fosse menos estressada, as coisas ficariam mais fáceis! ; ” – Minha chefe está na minha cola. Se ela largasse do meu pé, eu conseguiria produzir mais…”; “- Se meu filho colaborasse, a casa não ficaria tão bagunçada!
São tantos “se” na nossa vida… Grande parte deles envolvendo algo em comum: o desejo de controlar o comportamento do outro. Quem de nós gosta de ser CONTROLADO? E se você estiver no CONTROLE? Aí muda de figura?
A palavra “controle” traz para muitos de nós uma sensação desagradável e incômoda. Passa a ideia de que estamos sendo marionetes de outras pessoas, de estarmos subjugados ao outro. A ideia geral é que é melhor controlar do que ser controlado, não é mesmo?
No entanto, podemos ver a questão do controle sob outra perspectiva. Já parou pra pensar que em toda situação de controle há o controlador e o controlado, e que a relação entre eles é bidirecional? Ou seja, se eu estou controlando é porque existe uma outra pessoa que permite que este controle exista. E, ao permitir este controle, ela também me controla!
É simples: o controlador só exerce essa função porque existe alguém que é controlado e “permite” isso. E portanto, ao permitir o controle, também controla!
Vejamos dois exemplos:
1) Quando a namorada reclama que o namorado a agride verbalmente (controla o comportamento dela através de gritos e insultos), ele está no papel de controlador e ela de controlada. Mas, ao mesmo tempo, quando ela permite que ele a agrida verbalmente, ela passa a controlar o comportamento dele (ou seja, ela deixar que ele grite com ela acaba controlando o comportamento dele de gritar). Neste momento ela está na posição de controladora e ele de controlado.
2) Numa roda de conversa, Beto costuma ser ignorado pelos amigos quando dá uma opinião, ou então no meio de sua fala seus amigos mudam de assunto. Numa análise mais rasa, os amigos de Beto controlam o comportamento dele, impedindo-o de se expressar adequadamente. Por outro lado, Beto também controla os amigos quando se cala diante dessa situação, quando permite que isso ocorra. O comportamento de se calar e não retrucar faz com que os amigos continuem fazendo isso. Beto controla o comportamento dos amigos de ignorá-lo.
Olhando desta perspectiva, todos se posicionam como controladores e controlados. Com isso, desfaz-se a ideia negativa de que ser controlado é algo ruim, pois não existe apenas um lado da moeda: o controlador também é controlado! Desfaz-se o papel de vítima de quem é controlado, já que ela também controla!
De fato é muito mais confortável manter-se no papel de vítima e reclamar que o namorado, o chefe, a irmã, o amigo, a vizinha, o gato, o cachorro e o papagaio estão nos controlando do que assumir nossa parte na história. E aí começa aquela “guerra” pra ver quem ganha. Um controla de cá e o o outro controla de lá. O foco recai sobre controlar o outro.
Mas sejamos práticos. Que controle você tem sobre o outro? Se você acha que tem controle, me diga com sinceridade: qual o preço você tem pagado por isso? Como anda a relação de vocês? O que você ganha controlando (ou tentando controlar) as pessoas? Tem valido a pena?
Ah tá, entendi! Devo parar de controlar as pessoas então? IMPOSSÍVEL! Não existe um mundo sem controle… O importante é entender como essa relação controladora se dá e qual o nosso papel nisso, em cada relação que a gente estabelece.
Mas se é impossível não controlar o outro, o que posso fazer? O meu convite é: faça diferente! Uma dica: seja VOCÊ o instrumento de mudança! Faça O SEU comportamento ser a ferramenta de transformação! Afinal, se a gente tem algum controle sobre algo, é sobre o nosso próprio comportamento! Use-o a seu favor! E assim, ao controlar o seu comportamento, você estará inevitavelmente controlando o comportamento do outro também! Mas o foco do controle deve estar em você!
Vamos praticar?