Sim, é pra ele que escrevo hoje. Para aquele que já foi Herói, o meu herói. Aquele que catava conchinhas na praia comigo e que adorava explicar o mundo pra mim… Que sempre tinha uma resposta pra tudo, mas que não tinha vergonha de dizer que não sabia. Aprendi tantas coisas com ele: algumas coisas ainda guardo até hoje, e ainda me servem, e ainda são tão verdadeiras… Outras devo ter deixado pelo caminho, no difícil exercício de crescer. Se me examino mais de perto, ele está sempre lá; aliás, aqui, dentro de mim… no meu jeito de pensar, na forma mais otimista e ingênua de ver a vida, achando sempre que vai dar tempo, que vai dar certo, que o trânsito não atrasa, que o acaso sempre ajuda, na desorganização com as coisas pequenas, na incapacidade de prestar atenção aos detalhes pra ver o todo… Não tem nenhum lado em que eu olhe pra mim mesma que eu não o encontre em algum lugar.
Dos homens da minha vida, ele sempre foi o que mais me deu apoio, me deu a mão. O braço e o abraço. Tem muitos defeitos, é certo, mas quase nenhum como PAI. Se os tem, não lembro, não registrei… Prefiro lembrar de todo o tempo investido em me fazer crescer, me apoiar, me incentivar, me dar colo e carinho… Talvez ainda persista em mim, aquela menininha que insiste em vê-lo como herói… O meu! Sempre me fez sorrir, tinha certa incapacidade de me fazer chorar. Mas sempre me fazia feliz…
Pra ele, todo o amor do mundo… Todo o meu amor! Pra ele, as minhas orações, minhas preces e boas energias! Por ele, a minha caminhada, a minha luta e a minha estrada… Com ele, em todos os momentos, inclusive os que eu estou distante, porque é parte de mim! Porque se fosse pra escolher de novo, hoje, amanhã ou nos próximos mil anos, quando não houver mais tempo, nem espaço, nem matéria, nem nada, escolheria sempre ele como meu pai.
Eu sei que cada um de nós significa essa relação pai/filho de uma maneira peculiar. Sei também que a experiência de ser filho(a) é única, singular e intransferível, que mesmo entre irmãos é possível e bastante comum que não se tenha a mesma visão sobre o pai ou sobre a mãe. São muitas as variáveis que atuam na forma como nos relacionamos com o outro. Não acho que a minha forma de me relacionar com o meu pai seja melhor ou pior do que qualquer outra. É apenas diferente… É a minha! Mas torço bastante pra que muitas pessoas se identifiquem com ela, não porque ela seja perfeita, longe disso, mas porque ela é danada de bonita… E me orgulho demais da relação que conseguimos estabelecer… Digo CONSEGUIMOS porque uma relação é sempre uma construção… E é aqui onde quero chegar…
Com o Dia dos Pais se aproximando, gostaria de propor um exercício de reflexão: que tipo de relação estamos CONSTRUINDO com o nosso pai, nossa mãe, nossos irmãos, amigos… Com as pessoas? O que estamos FAZENDO pra estabelecer relações mais verdadeiras e mais genuínas ao longo do caminho? O que estamos DIZENDO para as pessoas que nos são caras e especiais sobre a importância delas nas nossas vidas?
Assim, neste domingo, espero que você possa eventualmente perder o tempo, o fio, a meada, a vergonha… Mas NÃO PERCA a oportunidade de construir uma relação (fazendo, dizendo, mostrando, perdoando, ajudando, visitando, ponha o verbo que lhe caiba) com seu pai, que faça mais sentido pra você. E aqui não importa se seu pai está vivo ou não… Importa muito mais o significado e os re-significados que vamos dando ao longo da vida a essa relação tão especial. Sempre é tempo!!! Afinal, quase sempre, “temos todo o tempo do mundo”…
Texto escrito por Nadja Curvelo, Terapeuta Comportamental da Equipe Ghoeber Morales Terapia & Coaching.