Desta vez o texto aqui no blog tem um cunho bastante pessoal. O único intuito é, a partir de minha experiência no carnaval deste ano, refletir um pouco sobre a vida e te provocar a pensar comigo. Vou contar 3 histórias e, ao final de cada uma, te farei uma pergunta. Vamos lá?
HISTÓRIA 1:
Sempre fui fã de axé music. As letras de fato não colaboram muito, mas o batuque dos tambores e o swing são, pra mim, contagiantes. Voltei ao Carnaval de Salvador após 6 anos de “abstinência”. Entre 2005 e 2008, fui em todos os anos. Portanto, tinha ido pela última vez com 28 anos, e retornei agora, aos 34.
Minha programação inicial era ficar de Quinta à Terça-Feira, saindo 1 vez em camarote e 4 vezes atrás do trio. Não consegui. Após uma noite num camarote e 2 dias seguidos atrás do trio, antecipei minha volta pra casa.
Mas o que aconteceu? O carnaval estava ruim? De forma alguma! Tudo estava como antes: muita animação, muito empurra-empurra, muita alegria, muito beijo na boca, uma festa linda, uma mar de gente na mesma vibração, cantando e pulando, saudando e celebrando a vida!
Bom, nem tudo estava como antes… Eu envelheci. Aos 34 anos, o pique mudou. O pique, alguns valores, o nível de tolerância para algumas coisas… Nem eu estava acreditando que eu estava vendendo os abadás de Domingo e Segunda-feira e antecipando meu vôo para o Domingo!
É aquela história: a gente quase nunca acha que vai acontecer com a gente! Até que acontece… A máxima “Aproveite enquanto é tempo” nunca me soou tão familiar.
O corpo físico “reclamou”. Panturrilhas doloridas, garganta raspando, trapézios “chiando” de tanto jogar os braços pra cima. Uma amiga comentou: “- E olha que você é assíduo na academia!”. Caímos na risada!
PERGUNTA 1:
Quantas vezes já ouvimos que “tudo tem o seu tempo” ? Neste sentido, deixo aqui a provocação: exatamente agora, neste ano de 2015, qual é o seu tempo? O ano começou faz quase 2 meses, ainda restam 10 pela frente. O que você vai fazer neste tempo?
HISTÓRIA 2:
De 2009 pra cá notei mais uma mudança, que não sei dizer em qual ano se deu, nem como ocorreu esse desdobramento. O fato é que há, hoje, pelo menos 3 blocos muito frequentados por homossexuais no Carnaval de Salvador: os blocos puxados por Daniela Mercury, Ivete Sangalo e Cláudia Leitte. Sim, há heterossexuais nos blocos, mas a quantidade é muito pequena. Muitos “fãs desavisados” descobrem isso apenas na hora.
Não, não estou sendo preconceituoso não. Apenas narrando um fato. Aliás, um fato que eu particularmente considero, aí sim, preconceituoso: essa divisão. É uma divisão implícita… Homens e mulheres heterossexuais que querem beijar na boca saem nos blocos puxados por Bell Marques, Durval Lelys, Saulo, e etc. Muitos homens e mulheres homossexuais saem nos outros blocos liderados pelas cantoras acima. São dois guetos à parte, do tipo “cada um no seu quadrado”. A cisão é tão grande que, de tanto ver “beijo gay”, ao final de um dos dias em que saí atrás de trio, me chamou a atenção quando vi um homem e uma mulher se beijando.
À princípio pode parecer que tantos homens e mulheres beijando outras pessoas do mesmo sexo no meio da rua, à luz do dia ou da noite, seja um avanço da nossa sociedade em termos de aceitação. Mas, como bom observador que sou, ia atrás do trio curtindo a folia mas também olhando para os camarotes. E a reação ao longo de todo o circuito Barra-Ondina era, muitas vezes, mas muitas vezes mesmo, de pessoas apontando para os “casais gays” se beijando dentro do bloco. Zombando, debochando mesmo.
Ao final do circuito, já fora das cordas, junto com a “pipoca”, também presenciei um vendedor ambulante jogando pedras de gelo em dois homens que se beijavam dentro do bloco. Como bem comentou minha amiga, pessoas para as quais o ambulante havia, há poucos segundos, tentado vender seu produto (cerveja) e ganhar um dinheiro na folia.
Imagens disponíveis na internet. Link completo ao final do post
PERGUNTA 2:
O que faz de você, heterossexual/homossexual/bissexual ou qualquer outro %#*&ssexual que está lendo este texto, melhor do que seu semelhante? Até quando o que as pessoas (eu, tu, ele, nós, vós, eles e você) fazem entre quatro paredes ditará nossa sociedade?
HISTÓRIA 3:
Se teve algo que não mudou muito de 2009 pra cá foram os “acampamentos” nas ruas. Eu cheguei na Quinta-feira às 8 da manhã na Barra e eles já estavam lá. Estes acampamentos, melhor compreendidos pelas fotos abaixo, são os vendedores ambulantes e, na maior parte das vezes, famílias inteiras (incluindo crianças e adolescentes) que durante 1 semana se “mudam” para o meio das ruas. Isso mesmo, durante todo o período do Carnaval (de Quarta-feira à tarde até Quarta-feira de Cinzas) eles estão lá. Passam manhã, tarde e noite nas ruas. Lá mesmo eles dormem, almoçam, jantam, vendem diversos produtos (desde bebidas, comidas, óculos escuros, fantasias, etc.), fazem as necessidades fisiológicas (as ruas continuam fedendo apesar dos banheiros químicos instalados.) Segundo algumas reportagens encontradas na internet, nos últimos dois anos a Prefeitura tem adaptado escolas e transformado alguns espaços em centros de acolhimento para estas crianças e adolescentes. Uma iniciativa fundamental na tentativa de alterar esta situação. Segundo o site cidadenova.org.br, no entanto, um último levantamento da prefeitura apontou que, em um único dia, aproximadamente 900 crianças e adolescentes foram abordadas sozinhas ou acompanhadas dos pais nas ruas do circuito de carnaval. É uma insalubridade e um total desvio dos direitos humanos difícil de colocar em palavras…
Imagens disponíveis na internet. Link completo ao final do post
PERGUNTA 3:
Até quando famílias inteiras, para conseguir dinheiro para a subsistência, precisarão se sujeitar a estas condições? Onde vamos parar com tamanha desigualdade?
Grande abraço,
Ghoeber Morales
Imagens provenientes dos links:
http://bit.ly/1COOszT
http://bit.ly/1CP7qcc
http://bit.ly/1COPkoi