Após assistir e ficar bastante impactado com a série “13 Reasons Why”, da Netflix, resolvi escrever este texto (de cunho totalmente pessoal) a fim de, talvez, provocar você a pensar na sua trajetória de vida até o presente momento.
Aos 15 anos me mudei para os EUA com meus pais e irmãos. Meu pai, na época, já Mestre e Doutor em Agronomia, foi fazer um Pós-doutorado no exterior e, com isso, pôde proporcionar uma experiência internacional para mim e meus irmãos. Portanto, morei 1 ano nos EUA, frequentei a high school e pude conhecer um pouquinho do “american way of life”.
Foi, sem sombra de dúvidas, o pior e mais difícil ano da minha vida, por uma diversidade de razões. Extremamente tímido, sem um bom repertório de habilidades sociais desenvolvido, muitas novidades e descobertas ao mesmo tempo, pouco autoconhecimento…
O primeiro dia de aula foi simplesmente terrível, nem gosto de me lembrar. Cheguei em casa às 16h, mal conseguia falar, de tão apático. Queria chorar, mas estava tão em choque que nem lágrima eu consegui produzir. Às 19h30 eu já estava dormindo (obviamente foi a forma que encontrei para fugir da situação desconfortável).
Sabe quando você acredita que está num pesadelo e a qualquer momento vai acordar e, aliviado, ver que tudo não passou de um sonho? Pois é, não aconteceu, rs. Acordei, me arrumei, peguei o school bus (aqueles ônibus amarelo dos filmes americanos) e lá estava eu, de novo, em sala de aula de 9h às 15h.
Durante este um ano na high school, a maior parte do tempo eu vivi fugindo… Desisti da matéria “Introdução à Comunicação Social” após o primeiro dia de aula, em que o professor me fez uma pergunta e eu respondi tudo errado (mal sabia falar inglês… imagine a cena!). Fui conversar com minha “counselor”, e pedi para ela me mudar para a disciplina “Espanhol 1”, mas ela negou. Disse que, como no Brasil a língua nativa era Espanhol, eu não poderia cursar esta disciplina. Até eu explicar para ela que no Brasil se fala Português…
Desisti também, no meio do semestre, da disciplina “Sociologia”, quando descobri que teria que fazer, em grupo, um trabalho de campo, fora da escola e fora do período das aulas. Passei o resto do semestre assistindo às aulas apenas como ouvinte, à despeito do professor ter me chamado uma vez ao fim da aula e realmente perguntado se eu ia desistir, já que na última prova eu tinha tirado um “B+” (equivalente a um 8).
Fiz aula de “Modern Dance” (hahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha) para não precisar jogar futebol americano! Enfim, ficaria horas e horas contando “meus causos” da Ames High School, os dilemas que vivi, mas o intuito deste texto não é esse.
Assim como na série “13 Reasons Why”, passei por perrengues, sofri bullying. Quem nunca? (Poucas pessoas, eu diria). Não cheguei nem perto de querer cometer suicídio, nada disso. Mas sofri absurdamente. Rezava todo dia, à noite, agradecendo a Deus por um dia letivo a menos (e um dia a menos nos EUA também). Fiquei bastante deprimido. Os finais de semana eram motivos de comemoração, bem como os pouquíssimos feriados. Domingo de tardezinha eu já me abatia novamente, pois o fim do Domingo trazia, consigo, a necessidade de enfrentar mais uma semana letiva.
A foto da esquerda é a foto do meu “yearbook” na escola, aos 15 anos. Sorriso ultra amarelo, querendo disfarçar o sofrimento e o desespero (que o olhar não deixou escapar). Já a foto da direita é uma foto atual, aos 36, na minha “melhor fase”, digamos assim.
O que aconteceram nestes 21 anos? Muuuuitass coisas! Não se constrói autoconfiança do dia para a noite. Psicoterapia, experiências importantes na vida, amores, mais perrengues, Coaching, mais perrengues, pessoas maravilhosas ao longo do caminho, professores, mais perrengues, amigos e especialmente minha família, a minha base!
Com o enorme apoio dela, superei muitos desafios, cresci como ser humano e profissionalmente também. Nos EUA, sem eles por perto nem consigo imaginar como as coisas teriam caminhado. Se eu tivesse que definir o “amor” com apenas uma palavra, certamente minha definição seria “família” (permissão aqui para fazer essa declaração aos meus amados pais, meus maiores tesouros, e aos meus dois lindos irmãos).
Mas, voltando…
Quem conhece só o “Ghoeber da direita” mais superficialmente (e mesmo quem já conviveu comigo mais de perto) provavelmente nunca imaginou que o “Ghoeber da esquerda” sequer existiu. É tão fácil julgar e fantasiar, não é? Não sabemos 1/10 do que se passa dentro das pessoas…
Quantas vezes não ficamos presos apenas ao momento, ao exterior, apenas àquilo que está ali, escancarado… e assim fazemos julgamentos, bem como agimos com pouca sensibilidade ao outro que nos cerca?
A protagonista da série “13 Reasons Why” sucumbiu à tantas pressões e cometeu suicídio. Tirar a própria vida é uma das condições mais drásticas que um ser humano pode adotar em relação a si mesmo. Para quem assiste de fora, pode eventualmente parecer uma atitude “infantil”. Quem já viveu tamanha dor, costuma compreender melhor.
Hoje, em momentos difíceis da minha vida, tenho o costume de me lembrar do que vivi aos 15 anos como uma forma de colocar as situações em perspectiva e, assim, minimizar o problema. Costumo dizer para mim mesmo: – “Ghoeber, sossega, pois você já passou por algo infinitamente mais doloroso”.
Por que estou me expondo assim? Precisa mesmo? Não daria para falar disso sem falar de mim? Sim, claro que daria. Mas, qual o problema? Qual o problema em sofrer, em se mostrar eventualmente frágil e vulnerável? Num mundo em que a exibição do “sucesso” (em suas mais diversas facetas) tem enorme destaque, acho fundamental relembrar que inclusive tais trajetórias costumam envolver, necessariamente, sofrimento (em maior ou menor escala).
Vinte e um anos depois, a série “13 Reasons Why” me fez reviver aspectos dolorosos da minha vida. Porém, aspectos extremamente relevantes e constituintes da minha história. Uma história suuuper especial, pois é só minha. Só eu a vivi… E, graças a ela, me tornei o homem que sou hoje, com imperfeições, lacunas e pontos fracos, mas também um homem mais maduro e repleto de virtudes.
Ter vivido tudo isso me ajuda muito, inclusive, na minha carreira como psicólogo e coach. Escolhi ajudar as pessoas a construírem uma vida com mais sentido e realização. Será que esta parte da minha história de vida contribuiu para minha escolha profissional? Confesso que aos 17 anos, na época do vestibular, isso não foi um fator consciente. Mas deve ter tido seu papel, sim.
Por fim, gostaria de levantar (apenas) 13 razões pelas quais eu acredito que vale a pena continuar vivendo:
E você, o que te chama atenção quando olha para sua trajetória? Quais são suas 13 razões?
Grande abraço e #vamosjuntos,
Ghoeber Morales